Diálogo Interativo

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28 julho, 2006

Balas perdidas e achadas

Talvez a grande pergunta que fica no ar junto com o cheiro de queimado dos tiros, bombas e ônibus incendiados pelo PCC em São Paulo seja "Afinal, o que estes criminosos querem?". Há várias respostas, nenhuma definitiva, objetiva ou fechada em si mesma; todas articuladas entre si, como os ingredientes de um bolo.
O problema nasce na família, porta de entrada de todo novo ser humano. As famílias de baixa renda, cujos chefes vivem em conflito permanente entre si e com o mundo, seja na forma da carência, do desemprego, da fome, da moradia precária (quando há), são meios propícios para o desenvolvimento de futuros delinqüentes. Ah, mas filho de rico também vira bandido. Vira. Só que há outras carências: pressão pra vencer sempre, falta de habilidade para lidar com fracassos, achar que o bem-estar material é suficiente. Só é cooptado para o crime aquele que tem alguma carência grave, seja de que ordem for. As famílias precisam perceber essas tendências e agir o quanto antes. A religião, seja qual for, as artes e o esporte podem ser boas ferramentas para a prevenção dessas tendências, que podem vir de muito longe — aí já entra minha fé, da qual prefiro não falar agora.
Depois, vem a escola, os amigos, a falta de oportunidade de levar uma vida lícita, o aparato policial ausente ou corrupto, o jeitinho, a cumplicidade. O resultado é um barril de pólvora.
Em qualquer estrato da sociedade, existem espaços a ser ocupados. Se o Estado não faz sua parte, fica o vácuo aberto para outro ser social fazê-la. Aí entra o crime organizado. Faturamento de milhões, vida agitada, intensa e curta, aventura, desafio, insensibilidade, desejo de vingança. O crime organizado não se contenta mais em simplesmente se apropriar do que não lhe pertence. Agora, o lema é desafiar o Poder Público, demonstrar poder. Vaidade. Daí os ataques do PCC.
Recomendo o livro Cidade Partida, do jornalista Zuenir Ventura , que conta, em seus primeiros capítulos, o processo de deterioração da segurança no Rio de Janeiro. Serve para análise do problema da criminalidade em qualquer lugar.
Assim como está cada vez mais arriscado viver nas nossas metrópoles, é igualmente arriscado escrever sobre este complexíssimo tema. Afinal, teses e mais teses já foram produzidas a respeito pelo mundo acadêmico e as balas continuam a voar e a acertar cabeças, peitos, costas, a abreviar vidas promissoras, a tirar do nosso convívio pessoas que poderiam ser importantes agentes de mudança.
Triste, pra dizer o mínimo.

4 Comments:

  • At 14:07, Blogger Carmen said…

    Oi, João...

    o curso de extensão universitária no qual trabalho visa à formação em direitos humanos e outros temas para o pessoal que ministra oficinas (de esporte, lazer e cultura) para os jovens da favela. Eu acredito que seja um meio interessante.

    É bem verdade que - às vezes - os programas do Estado mais fazem "controlar" os jovens do que trabalhar com promoção humana. Contudo, acredito que podem ajudar de alguma forma. Cabe a quem está na execução se preparar para ser mais educador ou formador do que "controlador". A gente tem atuado muito nesse sentido. Vamos ver no que vai dar. Ando numa fase de enfraquecimento da fé, mas ainda me resta alguma coisa.

    Sobre o comentário que você deixou lá no Resquícios, escrevi um post em janeiro deste ano. Se puder, dê uma lida depois. É possível que você me ache radical, mas fui honesta com o que penso. O link é o seguinte:

    http://resquiciosdodia.blogspot.com/2006/01/vermelha.html

    Beijo.

     
  • At 14:08, Blogger Carmen said…

    Este comentário foi removido por um administrador do blog.

     
  • At 14:48, Blogger João Flávio Resende said…

    Carmen,
    Li o texto e concordo plenamente.
    Realmente existe e é igualmente lamentável o Estado "controlador". Isso acontece porque quem precisa constantemente de aplauso tende a controlar os outros, seja por quais instrumentos forem, seja na esfera particular ou pública. Quem controla considera a autonomia e a independência um perigo para sua sanha de vaidade.
    Beijo.

     
  • At 12:58, Blogger Carmen said…

    Oi, João...

    estou sempre aqui à espera de novidades e não estou dizendo isto para fazer pressão! ;-)

    É só para te lembrar que, quando você quiser escrever, haverá gente querendo ler.

    Até!

     

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