Diálogo Interativo

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02 outubro, 2006

... E o jogo foi pra prorrogação!

Acordei hoje antes das seis da manhã, depois de uma boa noite de sono, que achei que não teria. Dirigi os quarenta e oito quilômetros que separam a casa da minha namorada da minha casa pensando no que escrever hoje sobre as eleições.

Minha meta hoje é escrever apenas sobre as eleições para o Executivo. Pretendo deixar para analisar o Legislativo daqui a alguns dias, já que os votos para deputado demoram um pouco mais para ser inteiramente totalizados e é preciso aguardar as articulações para a presidência da Câmara e do Senado. Pelo menos uma coisa é certa: já que elegeram as maiores bancadas, o PMBD ficará com a presidência da Câmara e o PFL com a do Senado. Já considero isso um retrocesso.

Preciso tentar escrever com isenção e uma certa dose de frieza. Neste momento, análises apaixonadas só tornam o cenário ainda mais nebuloso e tornam as dúvidas ainda mais difíceis de ser esclarecidas. A grande pergunta que fica, para todos que como eu defenderam e defendem a reeleição do presidente Lula, é: o que aconteceu?

Aconteceu uma grande migração de votos para Geraldo Alckmin, sobretudo entre o eleitorado de Heloísa Helena. Grande parte dos potenciais eleitores da senadora achou melhor descarregar seu voto de protesto em quem pode, de fato, chegar à Presidência. Alckmin conseguiu tirar de HH boa parte do voto "do contra".

Aconteceu a consolidação de um racha no PT que já vinha se desenhando há tempos. Dentre as principais candidaturas à Presidência, tivemos Lula, do PT, Heloísa Helena, ex-PT, e Cristovam Buarque, ex-PT. Não vou falar aqui do processo de saída de HH e Cristovam do partido. Daria um outro post.

Aconteceu uma série de coisas inaceitáveis com o governo Lula e com o PT, coisas que sempre abominamos nos mais de 26 anos de história do partido que nasceu da luta operária para se tornar uma referência política mundial. E justamente como referência, jamais poderíamos ter tido gente envolvida ou sequer suspeita de corrupção.

Aconteceu uma omissão inadmissível para um petista: deixar de ir a um debate com seus oponentes.

Aconteceu a rejeição a posturas arrogantes e ao excesso de confiança. E não foi só na eleição presidencial. O povo baiano suspendeu do poder a oligarquia de ACM ao eleger Jaques Wagner no primeiro turno. Surpresa total.

Aconteceu que o povo disse a Lula: "Aprovamos seu governo e seu trabalho como presidente, mas desaprovamos veementemente as atitudes corruptas de parte da sua equipe". O resultado disso está hoje em todos os jornais.

Não tapemos o sol com a peneira. Alckmin é favorito e conta com toda a mídia. E se Lula quiser mesmo continuar presidente, terá que calçar botina e pisar pessoalmente o barro do interior do país. Terá que ter a coragem de escorraçar antigos "companheiros" que ajudaram a destruir a imagem do PT nos últimos anos. Terá que confiar menos na sua assessoria e assumir o comando do resto de governo e da campanha. Terá que pedir cabeças em bandejas. E, principalmente, terá que animar a militância para a campanha de rua.

Para fechar por enquanto, reproduzo abaixo boa análise do jornalista Kennedy Alencar, redigida hoje.

Tendência de curvas é virada de Alckmin

Uma fotografia em série da pesquisas Datafolha desde o início de setembro mais o resultado final do primeiro turno mostram que as curvas de Luiz Inácio Lula da Silva e de Geraldo Alckmin podem se encontrar nos próximos dias, com tendência de virada para o tucano.

Vamos aos números do Datafolha desde os dias 4 e 5 de setembro. Lula tinha então 51% de intenção de voto. Oscilou negativamente para 50% nas duas pesquisas seguintes (feitas em 11 e 12 de setembro e 18 e 19 do mesmo mês). Nos levantamentos dos dias 22 e 27 de setembro, variou novamente para baixo (49%). Na pesquisa realizada nos dias 29 e 30, sexta e sábado passados, Lula caiu para 46%. No domingo, teve 48,6% dos válidos, o que equivale a 44,5% de votos computados nulos e brancos.

Ora, como a margem de erro da pesquisa Datafolha do final de semana era de dois pontos percentuais para mais ou para menos, Lula estaria dentro desse intervalo com os 44,5%. No entanto, não é o que a curva revela. O mais importante é olhar uma série de pesquisas, não apenas um levantamento. Desde o início de setembro, Lula perdeu 6,5 pontos percentuais. Deixou escapar a vitória na primeira fase.

No mesmo período, Alckmin subiu onze pontos. Na pesquisa Datafolha de 4 e 5 de setembro, Alckmin tinha 27% de intenção de voto. Oscilou para 28% no levantamento posterior (dias 11 e 12). Variou positivamente para 29% em 18 e 19 do mês passado. O dossiêgate teve início no dia 15, uma sexta-feira, mas só na semana seguinte começou a derrubar petistas em série e a causar dano político a Lula.

No dia 22 de setembro, Alckmin tinha 31%. Passou a 33% no dia 27. E chegou na véspera da eleição com 35%. Ele teve 41,6% dos votos válidos neste domingo, o que corresponderia a 38,1% na pesquisa que contabiliza todos os votos, não apenas os válidos. O tucano está a apenas 6 pontos percentuais de Lula. O fator inercial tende a favorecê-lo.

Se o presidente e sua campanha não conseguirem criar um fato que interrompa essa tendência, a probabilidade maior é o tucano chegar a um empate técnico nos próximos dias. Daí a ultrapassar o presidente será um passo. Esse fato pode ser um bom desempenho no debate, uma solução rápida para o dossiêgate, uma estratégia de campanha de impacto.

Até agora, Lula estava numa posição olímpica. Cantou vitória, errou ao fugir do debate da quinta-feira passada na Rede Globo. Terá de descer do pedestal e entrar no ringue, o que não significa jogo baixo. Como ninguém perdeu dinheiro subestimando a inteligência do PT, é lícito supor que alguns setores do partido e do governo possam se sentir tentados a criar um fato "Tabajara" para tentar reverter a óbvia tendência favorável a Alckmin.

Teoria - O texto acima tenta fazer uma análise baseada nos dados das pesquisas. Mas, no "day after" do primeiro turno, circulam muitas teorias para explicar os desempenhos de Lula e Alckmin e antever o desfecho da segunda rodada. Uma delas seria que parte do eleitorado votou para forçar Lula a se submeter a um segundo turno. Feito isso, migraria para o petista. É uma teoria. Os próximos dias vão deixar mais claro o cenário futuro. Por ora, melhor ficar com os "dados científicos".

8 Comments:

  • At 18:04, Blogger Carmen said…

    Ô, João! Desse jeito você até ofende os eleitores de Heloísa Helena. Quem vota em Heloísa Helena não vota só para protestar contra a corrupção no governo Lula, não! Quem vota nela vota por acreditar irremediavelmente na esquerda. E quem acredita irremediavelmente na esquerda não "migra" para Alkmin jamais.

    E me parece óbvio que os eleitores dela votarão no Lula agora. Aliás, Deus queira que os dela e os do Cristovam também. Vamos ver...

     
  • At 08:56, Blogger João Flávio Resende said…

    Carmen,

    Não quis ofender. O resultado do primeiro turno mostra claramente a migração de eleitores de HH para Alckmin. Como escrevi, foi "boa parte" dos eleitores, e não a maioria.

    O eleitorado de Heloísa tem dois perfis. A maior parte tem o perfil que você descreveu acima. A outra parte, menor mas também numerosa, preferiu Geraldo na última hora.
    Achei coerente a postura de HH de não apoiar ninguém e de liberar seus eleitores. Espero que quando ela estiver sozinha na frente da urna decida por alguém. Afinal, somos contra o voto nulo, certo?

    Beijo.

     
  • At 10:20, Anonymous Anônimo said…

    Caro João,

    Gostaria apenas de comentar a sua afirmativa que considera um retrocesso o fato do PT ter perdido a maioria na Câmara e consequentemente perder o direito à presidência de uma das casas legislativas, nesta minha estréia na blogosfera.

    Minha opinião é que o PT, no período em que foi a maior bancada, não soube aproveitar esta vantagem e cometeu erros primários, principalmente por ser um partido reconhecido pelo seu poder de articulação. A seguir faço meus comentários:

    - o primeiro presidente da Câmara, no período, foi o João Paulo, que se envolveu no escândalo do mensalão e não soube se explicar;
    - o segundo foi o Severino Cavalcanti, que ganhou a presidência graças à incrível incompetência do PT em se articular, indo dividido para a eleição entre o Luiz Greenhalgh e o Virgílio, pela sede de poder da facção paulista do partido. Acredito que esta foi uma das maiores demonstrações de incompetência política e de articulação já dadas na história política brasileira por um partido majoritário;
    - o terceiro é o “ expressivo “ e “carismático”, Aldo Rebelo que somente ganhou a presidência como prêmio de consolação pela lealdade a Lula.

    Portanto, acredito que o PT viu o cavalo passar montado em sua frente e não conseguiu montar e agora já é um pouco tarde para chorar o leite derramado.

    Também queria te perguntar onde posso encontrar o significado/conceito dos principais tópicos propostos para a reforma política, tais como voto distrital, voto distrital misto, federação de partidos, etc. Inclusive sugiro que você emita sua opinião no blog sobre a tão falada reforma política.


    Abraços
    Edilson

     
  • At 12:23, Anonymous Anônimo said…

    João Flávio,

    Quando você falar de reforma política, fale, se possível, dessa aberração existente no Brasil chamada suplente de senador! Minas Gerais tem 3 representantes no Senado: o Eduardo Azeredo, o suplente do José de Alencar e o suplente do Hélio Costa! Alguém conhece esses dois senhores (ou senhoras)?

    Um grande abraço

    Ronaldo Guimarães Gouvêa

    PS. E vamos ao 2o. turno!!!!

     
  • At 14:01, Blogger João Flávio Resende said…

    Edilson e Ronaldo,

    Perfeita análise do quadro da Câmara Federal de 2003 para cá. O que considero retrocesso não é tanto o PT perder a possibilidade de comando da Câmara, mas sim quem vai ocupar este lugar, a menos que seja um pemedebista com mais compromisso com o país, já que o PMDB é um partido grande e disforme ao mesmo tempo.

    Prometo ainda para esta semana um post sobre a proposta de reforma política, abordando conceitualmente as principais propostas e falando sobre a famigerada suplência de senador.

    Abraços e obrigado pelos comentários. O blog "tá bombando".

     
  • At 18:21, Blogger Carmen said…

    Poderia ter comentado o debate...

     
  • At 18:27, Blogger João Flávio Resende said…

    Carmen,

    Ainda vou escrever a respeito. Só estava esperando a poeira baixar um pouco. Além do debate, tenho outros dois posts na fila do prelo: sobre a proposta de reforma política e a sua proposta de falar das preferências pessoais. Devo escrever tudo amanhã (11/10).

    Beijo.

     
  • At 17:45, Blogger Carmen said…

    Duas sugestões:

    1) Para voltar a coluna da direita para a antiga posição, isto é, no início da página ao invés de no final, republique o blog. Vá em "modelo" e o republique.

    2) Volte a escrever.

    :-)

     

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