Diálogo Interativo

Espaço para troca de ideias sobre diversos assuntos, com destaque para atualidades, comunicação, política, educação e relações humanas.

27 dezembro, 2006

Feliz 2007

Desisti de escrever sobre 2006. Toda a mídia estará empenhada nisto nesta semana. Como forma de entrar mais leve em 2007, compartilho o texto-poema abaixo com vocês. Ao ler, imediatamente me identifiquei com cada palavra.

Só voltarei a escrever depois do dia 15/01. Terei merecidos 16 dias de férias, longe do computador, do celular, em total entrega e dedicação às pessoas que amo.

Feliz Ano Novo a todos.



Rifa-se um coração

Clarice Lispector

Rifa-se um coração quase novo. Um coração idealista. Um coração como poucos. Um coração à moda antiga. Um coração moleque que insiste em pregar peças no seu usuário.

Rifa-se um coração que na realidade está um pouco usado, meio calejado, muito machucado e que teima em alimentar sonhos e cultivar ilusões. Um pouco inconseqüente que nunca desiste de acreditar nas pessoas. Um leviano e precipitado coração que acha queTim Maia estava certo quando escreveu "...não quero dinheiro, eu quero amor sincero, é isso que eu espero...". Um idealista... Um verdadeiro sonhador...

Rifa-se um coração que nunca aprende. Que não endurece, e mantém sempre viva a esperança de ser feliz, sendo simples e natural. Um coração insensato que comanda o racional sendo louco o suficiente para se apaixonar. Um furioso suicida que vive procurando relações e emoções verdadeiras.

Rifa-se um coração que insiste em cometer sempre os mesmos erros. Esse coração que erra, briga, se expõe. Perde o juízo por completo em nome de causas e paixões. Sai do sério e, às vezes revê suas posições arrependido de palavras e gestos. Este coração tantas vezes incompreendido. Tantas vezes provocado. Tantas vezes impulsivo.

Rifa-se este desequilibrado emocional que abre sorrisos tão largos que quase dá pra engolir as orelhas, mas que também arranca lágrimas e faz murchar o rosto. Um coração para ser alugado, ou mesmo utilizado por quem gosta de emoções fortes. Um órgão abestado indicado apenas para quem quer viver intensamente, contra-indicado para os que apenas pretendem passar pela vida matando o tempo, defendendo-se das emoções.

Rifa-se um coração tão inocente que se mostra sem armaduras e deixa louco o seu usuário. Um coração que quando parar de bater ouvirá o seu usuário dizer para São Pedro na hora da prestação de contas: "O Senhor pode conferir. Eu fiz tudo certo, só errei quando coloquei sentimento. Só fiz bobagens e me dei mal quando ouvi este louco coração de criança que insiste em não endurecer e se recusa a envelhecer".

Rifa-se um coração, ou mesmo troca-se por outro que tenha um pouco mais de juízo. Um órgão mais fiel ao seu usuário. Um amigo do peito que não maltrate tanto o ser que o abriga. Um coração que não seja tão inconseqüente.

Rifa-se um coração cego, surdo e mudo, mas que incomoda um bocado. Um verdadeiro caçador de aventuras que ainda não foi adotado, provavelmente, por se recusar a cultivar ares selvagens ou racionais, por não querer perder o estilo. Oferece-se um coração vadio, sem raça, sem pedigree. Um simples coração humano. Um impulsivo membro de comportamento até meio ultrapassado. Um modelo cheio de defeitos que, mesmo estando fora do mercado, faz questão de não se modernizar, mas vez por outra, constrange o corpo que o domina.

Um velho coração que convence seu usuário a publicar seus segredos e a ter a petulância de se aventurar como poeta.

21 dezembro, 2006

O maior presente é o próprio Cristo!

Numa certo mês de novembro da década de 80, ao ver as primeiras propagandas de TV alusivas ao Natal, eu disse "Xi, vai começar essa enjoeira (sic) de novo!". Levei uma bronca da minha mãe, que disse que eu não deveria falar assim do Natal. Expliquei que eu não gostava da avalanche publicitária e que, quanto ao verdadeiro sentido do Natal, nenhum problema.

Pois é com esse mesmo espírito que ainda hoje vejo a sanha comercial em toda a mídia nesta época. Já que a maioria não pode comprar e/ou ganhar o que deseja, resta o consumo de imagens. E só.

Não sejamos hipócritas: a movimentação de dinheiro no Natal é benéfica para todos (os que podem consumir). Afinal, as vendas a mais criam aporte financeiro para o 13º salário, que faz com que as pessoas comprem mais, e assim por diante...

Não vejo problema em presentear no Natal a quem a gente ama — eu mesmo enfrentei, na terça passada, duas horas de engarrafamento para comprar os presentes dos meus filhos — mas acho que isso não pode estar no centro das comemorações. O Espírito de Natal precisa encher nossas famílias e nossos corações e mentes nesta época e permanecer durante todo o ano, ou melhor, durante toda a vida. Não adianta a gente ser bonzinho nesta época e fazer tudo errado no resto.

O nascimento de Cristo é um acontecimento para ser comemorado com muita devoção e fé. Pessoas que a gente não pôde ajudar merecem pelo menos nossas orações. É isso que devemos fazer à meia-noite do dia 25, muito antes de pensar em ceia, bebidas, presentes... Lembrar de Deus e de Seu Filho mais Ilustre e do significado da existência de ambos para a nossa própria existência.

Pretendo escrever um pouco sobre 2006 na semana que vem.

Um Natal cheio de alegria e paz para todos.