Por que voto em Lula para presidente
Este foi o trecho mais emocionante do discurso do presidente Lula no comício de Belo Horizonte, na terça 26. Com exceção de 1989, fui em todos os comícios de Lula realizados em BH.
Decidi começar este texto com a citação acima porque quero fazer uma análise menos fria das minhas razões para defender o meu voto incondicional em Lula.
Acompanho a trajetória do presidente desde os meus sete anos. Na época, eu dizia em casa que as greves eram uma espécie de pirraça que os trabalhadores faziam para que os patrões lhes dessem um salário melhor. E achava curioso aquele barbudo de voz rouca e língua presa enfrentar o governo e os empresários, criticar, reivindicar. Era muita coragem, mesmo na época da "abertura" do Figueiredo.
Depois, veio a fundação do PT, veio Lula deputado constituinte, eleito com 650 mil votos, veio a emoção de 1989 (meu primeiro voto), veio 1994 com Lula atropelado pelo Plano Real (estabilidade conseguida, mas a sociedade pagou caro por ela), veio 1998 com a dificuldade de tentar vencer FHC que estava no poder. E veio 2002, sem comentários.
Com exceção dos problemas com Waldomiro Diniz, Marcos Valério e a lambança do Dossiê Tabajara (tudo obra de gente que não merecia a confiança do presidente — ele tem o mesmo defeito que eu tenho de confiar demais nas pessoas), o governo Lula funcionou dentro das minhas expectativas de cidadão e de militante. Não vou me alongar, pois levaria dias para escrever tudo que considero importante a respeito. Aí, ninguém iria ler...
Cito só algumas realizações deste governo.
- Bolsa Família: os programas sociais que existiam foram unificados, aperfeiçoados e vinculados à freqüência escolar e à carteira de vacinação. Resultado: cerca de 40 milhões de pessoas atendidas, fora o reflexo a longo prazo da permanência das crianças na escola.
- Luz para Todos: até agora, 3 milhões de pessoas a mais com eletricidade em casa no meio rural. Eu morei dois anos e meio sem luz num bairro da periferia de Santa Luzia, e sei o que é a alegria de chegar em casa e acender lâmpada, tomar banho de chuveiro quente.
- Blitz contra o trabalho escravo.
- Revisão do Provão, com um novo modelo de avaliação que afere também as universidades.
- Mais escolas técnicas federais.
- ProUni. 400 mil estudantes beneficiados.
- Três vezes mais marcas de medicamentos genéricos no mercado.
- 1,2 milhão de moradias entregues em três anos e meio.
- Fortalecimento da Polícia Federal. 3.405 pessoas presas, contra 54 nos três últimos anos do governo anterior.
- Controladoria Geral da União: ganhou orçamento próprio e fiscaliza prefeituras por sorteio — já foram mais de 900, dos 5.500 municípios do país.
- Comunidades remanescentes de quilombos estão sendo reconhecidas oficialmente como tal pelo Governo. A partir de então, passa a ter acesso a programas específicos. Na zona rural de Brumadinho fica a comunidade de Sapé, já reconhecida, que recebeu em 2003 a visita da ministra Matilde Ribeiro, da Secretaria Nacional de Políticas de Promoção da Igualdade Racial.
- Superávit recorde da balança comercial.
- Manutenção da inflação sob controle.
- Quitação da dívida com o FMI, com a conseqüente redução da dependência externa.
- Cumprimento de todos os contratos assumidos no governo anterior.
- As exportações dobraram.
- Comércio com potências emergentes quase triplicou.
- O governo rejeitou as imposições da ALCA.
- Brasil liderou a missão de paz da ONU no Haiti.
- 245 mil famílias assentadas no campo.
- Lei Nacional da Agricultura Familiar.
- Recursos do Programa Nacional de Agricultura Familiar (Pronaf) quase quadruplicaram.
- Apoio à produção de veículos bicombustível e criação do programa do biodiesel.
- Fim das privatizações no setor elétrico.
- Ampliação do acesso à telefonia, com implantação de telefones públicos em comunidades com mais de 100 moradores.
- Criação de 6 milhões de postos de trabalho. Ao contrário do que se diz, Lula nunca prometeu criar 10 milhões de empregos. Disse, em 2002, ao ser entrevistado pelo Canal Livre, da Rede Bandeirantes, que o Brasil tinha potencial para gerar 10 milhões de postos de trabalho em quatro anos.
É claro que ainda há muito o que fazer. Por isso mesmo, vale a pena Lula continuar na Presidência: para não se perder o que já foi feito e para haver continuidade dos projetos, coisa rara no nosso país.Para terminar, reproduzo o artigo abaixo, escrito hoje, que é uma das melhores análises que li sobre a mudança de perfil do eleitorado de Lula.
Porque são pobres, nordestinos e negros
Talvez por embutir um corte social no eleitorado inédito, este processo eleitoral transborda preconceitos. Primeiro, a análise do fenômeno sociológico do voto do pobre, descolado de formadores de opinião, derivou para o preconceito do "voto vendido" por um prato de comida, simbolizado pelo Bolsa Família. Depois, o voto nordestino foi colocado no mesmo saco do coronelismo, como se tivesse ocorrido uma negociação individual desse eleitor com o candidato a presidente. Agora, entrou em cena o voto dos negros (que, nas pesquisas, são a soma dos pretos e pardos). A última conclusão, derivada da pesquisa do Ibope da semana passada, é que os negros dão menos importância à ética que os brancos - e por isso tenderiam a eleger, em sua maioria, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Pois bem: sou branco, de classe média, não sou nordestino e tenho curso superior completo. Mesmo assim, voto em Luiz Inácio Lula da Silva, 60 anos (61 em 27/10), número 13, para presidente do meu país, da minha terra, da minha gente. Voto em Lula para presidente do futuro dos meus filhos, das novas gerações que vão ler nos livros de História que um ex-operário não fez tudo que queria, mas deu os primeiros passos para tornar o Brasil um país menos desigual, apesar do arrepio de uma elite podre, fedida, que tentou a todo custo sabotar a mudança. Se der segundo turno, não tem importância. Vou pra rua ainda com mais gás do que agora, defender a eleição do mais legítimo representante do povo que já existiu no Brasil.