Diálogo Interativo

Espaço para troca de ideias sobre diversos assuntos, com destaque para atualidades, comunicação, política, educação e relações humanas.

28 abril, 2006

De olho em outubro

As peças do jogo pela corrida presidencial começar a se movimentar de fato no tabuleiro. A cinco meses das eleições, é hora de o eleitorado prestar atenção nos candidatos e nos seus projetos. E olhem que os votos serão para cinco cargos: deputado federal, deputado estadual, senador, governador e presidente. Aliás, você lembra em quem votou para deputado em 2002?
Vamos dar uma rápida passada no quadro, por ordem presumida de posição nas pesquisas.
LULA - ainda não assumiu publicamente a condição de candidato, mas todo mundo sabe que é. Tem a máquina na mão e é favorito. Porém, ainda enfrenta fogo cerrado da oposição por conta das lambanças aprontadas por alguns auxiliares. Membros do PT e da base aliada deram muito combustível para a oposição fazer fogueira.
ALCKMIN - o ex-governador ainda não decolou. Deve melhorar um pouco sua posição na preferência do eleitorado em função da propaganda do PSDB que está indo ao ar. Enfrenta problemas envolvendo a administração da Nossa Caixa, banco do Estado de São Paulo, e problemas com o PFL, que trava uma guerra interna para escolha do vice e para dissipar rumores gerados pelo prefeito do Rio, Cesar Maia, de que o partido poderia não se aliar ao PSDB.
GAROTINHO - Entendo que a candidatura do ex-governardor do RJ já nasceu morta. Ainda mais depois de denúncias de que ele teria recebido dinheiro da empresa de um assaltante para a campanha da sua pré-candidatura.
ITAMAR - O ex-presidente diz que também é pré-candidato e certamente será o fiel da balança de todo o processo. Todo mundo vai ficar esperando-o decidir o que vai fazer. E Itamar é conhecido pela sua demora em tomar decisões. Faz de propósito porque sabe que interfere no processo.
HELOÍSA HELENA - O PSOL quer "chapa pura" para disputar a Presidência, enquanto o PSTU de José Maria de Almeida reivindica a vaga. A aliança ameaça fazer água.
ENÉAS - O deputado do Prona, agora sem barba, vai disputar de novo o Planalto. Ficou apagado por todo o seu mandato, apesar da votação gigantesca que obteve em 2002 — mais de 1,5 milhão de votos.
Em outro texto, falarei sobre as eleições para o Legislativo, tema que me preocupa muito.
Bom fim de semana.

25 abril, 2006

Deputado flex

Os gastos com combustíveis em alguns gabinetes de deputados federais chegam a R$ 60 mil por mês, ou R$ 2 mil por dia. Considerando um consumo de 12 km/l e a gasolina cotada a R$ 2,35, daria para rodar 851 km em um só dia. Todo dia, inclusive sábados, domingos, feriados e dias santos.
Claro que ninguém está gastando tanto combustível. A maior parte das notas emitidas pelos postos são frias, usadas para justificar gastos injustificáveis. O problema é que cada deputado federal tem direito a R$ 15 mil por mês para cobrir despesas da atividade parlamentar, a tal Verba Indenizatória. Muitos deputados estão usando este dinheiro para engordar o próprio orçamento. E as tais notas não são checadas. Ou seja, o deputado pode pedir nota de R$ 15 mil à padaria da esquina e não ser importunado pela administração da Câmara dos Deputados.
Ontem o Jornal Nacional apresentou a lista dos maiores gastadores.
Nenhum deputado da lista era do PT.

Município forte, país forte

O Governo Federal anunciou o aumento de repasses do Fundo de Participação dos Municípios (FPM). No total, R$ 1,4 bilhão a mais nos cofres das prefeituras neste ano. Os presidentes da Câmara e do Senado já se comprometeram a viabilizar a aprovação no Congresso.
Considerando que os municípios são a menor célula administrativa do país e que todo e qualquer cidadão mora neles, o incremento financeiro para as prefeituras pode produzir bons efeitos se, claro, for bem gerenciado. Mas não é isso que se vê. A Controladoria Geral da União (CGU) fiscalizou, por sorteio, quase mil prefeituras desde o início de 2003. Encontrou irregularidades em quase todas.
O governo federal tem apostado na autonomia administrativa das prefeituras, à medida que faz, além do incremento do FPM, outros repasses diretos aos municípios, como os recursos do Fundo Nacional de Saúde, do Fundo para o Desenvolvimento do Ensino Básico, do Bolsa Família, além de oferecer um sem-número de ferramentas para o desenvolvimento municipal, através de instituições como o BNDES, a Caixa Econôminca Federal e o Banco do Brasil.
Feliz do município que enxerga estas oportunidades e as usa para melhorar a qualidade de vida dos seus governados.

17 abril, 2006

Dez anos de impunidade. E os conflitos agrários continuam matando

Pouco antes do anoitecer de 17 de abril de 1996, dezenove trabalhadores rurais sem-terra foram mortos em uma rodovia do sudeste do Pará. A matança, conhecida internacionalmente como
"Massacre de Eldorado dos Carajás", expõe uma enorme ferida ainda aberta no Brasil: a questão da posse e uso da terra.
Discordo de muitos dos métodos de luta do MST e de movimentos correlatos. Porém, acredito que o grande mérito dos movimentos de luta pela terra seja o de mostrar à sociedade que a questão ainda está longe de ser resolvida. A Lei das Terras, de 1850, determina que a compra e a venda são os únicos meios de acesso à terra no Brasil. Sua promulgação deu origem a intermináveis conflitos agrários, que vêm resultando em mortos, feridos e na perpetuação
dos conflitos, que já criaram zonas de tensão, como a própria região de Eldorado dos Carajás, no Pará, a do Pontal do Paranapanema, extremo oeste do Estado de São Paulo, dentre outras. Governo vai, governo vem e o problema continua.
Não adianta ser contra ou a favor do MST, contra ou a favor dos proprietários de terra. A questão está aí, longe da maioria da população, que é eminentemente urbana e, talvez por isso, fora dos debates sobre os grandes temas nacionais.Enquanto lembramos da questão agrária apenas quando há grandes ocupações, saques, fechamento de rodovias, marchas e manifestações do gênero, corpos continuarão a tombar silenciosamente pelos rincões do Brasil.

13 abril, 2006

Jornalismo, profissão em extinção

por Bernardo Kucinski

Prezado arqueólogo,
Não sei se você sabe o que é jornalismo. É uma das profissões que hoje estão desaparecendo. Ao jornalista cabe, entre outras funções, relatar os fatos importantes do momento com honestidade e denunciar abusos dos poderosos contra os mais humildes, ou contra o interesse público ou contra a paz entre os povos. É uma profissão que incomoda muito.
Como tenho a certeza de que no seu tempo ela já não existirá, tal a velocidade com que está se extinguindo, quero deixar registrados seus últimos momentos. Mesmo porque, ao contrário das outras profissões que estão morrendo e que devem deixar como rastros as suas ferramentas e utensílios, o jornalismo não deixará nenhum sinal de que existiu, exceto as histórias publicadas em jornais. O jornalismo não deixará ferramentas e utensílios, como provas de que existiu porque ele não se define por uma técnica. Sua técnica é parecida com a de muitas outras ocupações. Ele define-se por uma ética, e ética não é algo material, que deixe pedaços enterrados no chão.
São muitas as profissões que hoje estão desaparecendo. Cada vez mais são as máquinas e os computadores que fazem os objetos. E até planejam desenham, escrevem, programam, organizam e despacham. Tudo automático. E cada vez mais os objetos deixam de ser consertados quando quebram ou desgastam-se, de modo que também as profissões dedicadas ao reparo dos objetos desaparecem, tornam-se tão inúteis quanto os objetos que deveriam restaurar. É o caso do sapateiro. Você sabe o que é um sapateiro? É um artesão que fabrica sapatos, um de cada vez, o do pé direito sempre um pouquinho maior do que o do pé esquerdo, pois assim, assimétrica, foi feita a espécie humana. O sapateiro também conserta sapatos. Ainda há hoje, nesse inicio de século XXI os que consertam, mas são cada vez mais raros. Os que fabricam já não há mais, exceto se for para algum caso especial de deformidade. Meu pai foi sapateiro. Por pouco tempo. Abandonou logo, primeiro, porque não levava jeito; depois, deve ter percebido que a profissão não tinha futuro. Hoje, os sapatos são fabricados em série por máquinas, são chamados, a maioria, de tênis, com marcas esquisitas e, logo que se gastam, são jogados no lixo. A maioria nem é de couro, é de borracha ou um plástico que imita o couro.
Outra profissão que desapareceu de vez, de modo fulminante é a do linotipista. Você deve saber que muitos dos revolucionários deste século foram linotipistas, que ficaram espertos e revoltados de tanto ler sobre as iniqüidades de nosso tempo. Espero que nas tuas escavações você tenha topado com os indícios macabros dessas iniqüidades, o holocausto, o massacre em Ruanda, as bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki a fome na Etiópia. Os desaparecimentos políticos na América Latina.
Voltando aos linotipistas: eles compunham linhas de tipos de impressão em chumbo. Chumbo quente, fumegante. Tinham que tomar leite para não se envenenaram. Tudo isso sumiu com as composições a frio, com a informática, com a microeletrônica. Sumiu também a datilografa. Você sabia que as pessoas digitavam as letras num teclado de ferro? E que, se errassem uma letra, tinha que começar tudo de novo? Também desapareceram os pestapistas, os paginadores, todos os profissionais que montavam as chapas de impressão. Tudo isso era feito à mão, coisa por coisa, página por página.
O desaparecimento do jornalista está se dando de modo mais sutil, mais imaterial e por processos diversos. Primeiro, uma boa parte deles, em vez de defender o interesse público, dedica-se hoje a melhorar a imagem ou defender objetivos de grandes empresas, de grupos de interesse, governos e políticos. Chamam-se assessores de imprensa. Os mais importantes chamam-se diretores de relações institucionais. Outros jornalistas estão virando uma espécie nova de ficcionista que mistura realidade com imaginação, inventa histórias, usa os personagens do momento para criar enredos imaginários. Ou usa elementos de fatos reais para criar todo um enredo, mais envolvente e dramático. Assim, não precisam investigar nada, nem comprovar, nem ouvir todos os lados envolvidos num episódio para relatá-lo com verossimilhança, muito menos estudar e pesquisar os temas sobre os quais escrevem. Não são escritores, como se poderia pensar, porque não tem estilo, não tem classe. Usam uma linguagem insultuosa e arrogante, adjetivada, rococó, muito distante também da linguagem clássica do jornalismo, que deve ser objetiva e econômica e, na qual, os fatos devem estar adequadamente hierarquizados e contextualizados. Usam muito o humor e sarcasmo, mas sem o talento e a criatividade dos verdadeiros humoristas. Jogam todos esses elementos dispares num meio novo de comunicação chamado Blog, que não se sabe se é uma comunicação pública ou pessoal. E onde tudo pode ser colocado, fatos, mentiras, fofocas, versões, insinuações, ilações e até acusações. No blog nada dura mais do que duas horas. No blog, tudo é efêmero, fugaz. E divertido. É como se fosse uma sessão de cinema. Assim, o jornalismo também virou entretenimento.

06 abril, 2006

Sem palavra

José Serra (PSDB) deixou a Prefeitura de São Paulo para se candidatar ao governo paulista. Rasgou a carta que assinou em setembro de 2004 se comprometendo a ficar na Prefeitura até o fim do mandato. A imprensa fingiu de morta. Queria ver se fosse alguém do PT...