Diálogo Interativo

Espaço para troca de ideias sobre diversos assuntos, com destaque para atualidades, comunicação, política, educação e relações humanas.

14 agosto, 2006

O exercício da Presidência deixa marcas em Lula

Como não podia deixar de ser, corrupção foi o tema principal da entrevista concedida ao JN pelo presidente Lula, do PT, candidato à reeleição. Com expressão de cansaço, o presidente falou sobre o valerioduto e seus desdobramentos. Assumiu a responsabilidade pelo afastamento dos envolvidos e falou que teria tomado mais rapidamente as providências se tivesse sabido dos problemas com mais antecedência. O problema é que até o homem-forte do presidente, Antônio Palocci, que fora veementemente defendido várias vezes por Lula, teve que deixar o governo — meteu-se na lambança da quebra de sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa (lembram dele?) em março.
Lula falou do papel da Procuradoria Geral da República, da Controladoria Geral da União e da Polícia Federal no combate à corrupção.
Dois atos falhos: ao falar sobre a dificuldade de se ter conhecimento de tudo o que acontece com o governo, mencionou a Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo como "ligada" ao Ministério da Agricultura; claro que os dois órgãos têm ligação, mas a Secretaria paulista é vinculada administrativamente ao Governo do Estado. E no final, disse que "a única coisa que vem caindo é o salário... perdão, a inflação..." Resquício do tempo de sindicalista e de político de oposição.
Lula está, de certa forma, pagando o preço por estar no poder. Mas, mesmo assim, demonstra a experiência que tanto lhe foi cobrada por José Serra (PSDB) durante a campanha de 2002. Viveu o céu e o inferno no exercício da Presidência. Agora, está na delicada posição de ser julgado pela população durante o exercício do cargo. Na verdade, seu governo será avaliado pelo voto, como em um plebiscito.

Por que Cristovam não decola?

O tema Educação permeou quase toda a entrevista do senador Cristovam Buarque, candidato à Presidência pelo PDT. É sua principal plataforma de campanha. Buarque apresentou bons argumentos e explicou um pouco melhor a proposta de federalização da educação básica. Sempre torci o nariz para isso, porque penso que tal tarefa é de responsabilidade dos municípios. Mas o candidato esclareceu que pretende fazer uma espécie de co-gestão da Educação fundamental. Interessante.
O casal telejornal pegou meio pesado com o fato de Cristovam não ter conseguido se reeleger governador do DF. Ele perdeu aquela eleição, em 1998, por uma diferença de menos de 1% dos votos. E perdeu para Joaquim Roriz (PMDB), conhecido por práticas pouco recomendáveis em se tratando de campanha eleitoral. Talvez o fato de ter vacilado na questão do aumento de salário para o funcionalismo público tenha mesmo selado sua derrota, já que a diferença foi ínfima.
Uma explicação sobre demanda e necessidade foi fantástica: Buarque disse que quando a pessoa está num supermercado e pode pagar o que compra, ela tem demanda por determinados produtos; já aquele que está do lado de fora, deseja ou precisa dos mesmos produtos mas não pode comprar, tem necessidade. Disse também que demanda e necessidade precisam ser tratadas de forma diferente.
Fiquei com a impressão de que falta a Buarque capacidade de colocar em prática o que defende e o que planeja quando as condições de que dispõe não são as ideais. Isso ficou claro tanto na entrevista quanto na sua passagem pelo Ministério da Educação. Ele tinha tudo para ser o melhor ministro do governo Lula. Entretanto, não foi o que aconteceu — Buarque ia para a imprensa reclamar que sua pasta não tinha verba, assunto que deveria ser tratado estritamente dentro do governo. Acredito que esta atitude tenha sido determinante para sua cabeça rolar na reforma ministerial. Ele é inteligente, bem-intencionado e tem informação. Mas peca na hora de praticar.
Pelo menos numa coisa o senador-candidato está certo: Educação é o caminho.

11 agosto, 2006

Cristovam e Lula na segunda-feira

Comento na segunda 14/08 as entrevistas do candidato à Presidência pelo PDT, Cristovam Buarque, e do presidente Lula, candidato à reeleição pelo PT. Vou assistir às duas neste sábado — por compromissos à noite na quarta e na quinta, não pude ver e deixei gravando.
Bom fim de semana.

09 agosto, 2006

HH "no encalço de Alckmin"

O característico dedo em riste e as conhecidas frases de efeito marcaram a entrevista da candidata à Presidência pelo PSOL, senadora Heloísa Helena. Durante os 12 minutos da entrevista, ela praticamente não deixou o casal telejornal fazer perguntas. E também ficou numa saia justa por ter que admitir que se arrependeu de chamar o ministro de Relações Institucionais, Tarso Genro, pejorativamente de "empregadinho do presidente". Só que, para usar uma frase feitíssima, a emenda ficou pior que o soneto. "Não vou ficar batendo boca com ministro que se presta a ser moleque de recados do presidente". Coisa de quem não consegue segurar a língua dentro da boca.
Achei a senadora mais coerente que o ex-governador Alckmin, que deu entrevista anteontem no mesmo JN (leia post anterior). Falou sobre reforma agrária, disse que o socialismo é sua "convicção" e explicou a diferença entre programa partidário e programa de governo. HH tem feito caminhadas pelo Brasil, fazendo uma campanha simples e ganhando apoios por onde passa. Tende a tirar votos do PSDB, o que foi confirmado pelas duas pesquisas divulgadas ontem, da CNT/Sensus e do Datafolha, que apontam crescimento de HH e Lula e queda de Alckmin.
Hoje o JN recebe o candidato do PDT, senador Cristovam Buarque. Amanhã é a vez do presidente Lula, do PT.
Cautela. O jogo está sendo jogado, e ainda nem chegamos ao final do primeiro tempo.

08 agosto, 2006

Chuchu na saia justa

O candidato à Presidência pelo PSDB, Geraldo Alckmin, passou apertado ontem ao ser entrevistado ao vivo pelo Jornal Nacional, da Rede Globo. Esquivou-se dos temas colocados, como o envolvimento do senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG) no valerioduto, assumiu que o PSDB muda de idéia segundo as próprias conveniências (claro que disse isso de forma velada) e usou as bravatas típicas de candidato paulista — sem bairrismo, mas os bordões de campanha paulista são amplamente conhecidos; coisas como "não vou me omitir, não vou me esconder e vou liderar este trabalho", sobre a questão da segurança pública, "vou fazer", "vou prender", "fiz isso, fiz aquilo"... como se tudo dependesse só do presidente da República.
Sempre tive boa impressão do ex-governador quando ainda governava o Estado de São Paulo. Herdeiro político do ex-governador Mário Covas, morto pelo câncer em 2001, sempre achei que Alckmin seguria a trilha do velho PSDB, dissidência do PMDB surgida no final dos anos 80 com a proposta de se posicionar um pouco mais à esquerda do que o velho MDB, que havia se transformado no que é hoje, um partido disforme, esquizofrênico, um saco de gatos. "O PMDB é mais um movimento do que um partido" escreveu-me um amigo leitor para este blog certa vez. Pois é verdade. Daí a dissidência que resultou no tucanato.
E o PSDB caminha para a mesma esquizofrenia. Alckmin é representante de si mesmo. E nada mais. Amargou hoje queda nas pesquisas, conforme levantamento da CNT/Sensus (leiam no site da Folha de S.Paulo), a que chamou de "piada". Mais uma bravata à paulista.
Aguardemos as próximas entrevistas no JN. Hoje é a vez da candidata do PSOL, Heloísa Helena. Amanhã comento, se conseguir chegar em casa a tempo de ver.